Como você já sabe, a Iniciativa Sábados Azuis nasceu do desejo de uma equipe de voluntários em oferecer orientações e mentorias virtuais gratuitas para lideranças responsáveis pela gestão de destinos no Brasil.
Antes, porém, de nos aventurarmos em grandes desafios, nos propusemos a testar a metodologia da Iniciativa em dois atendimentos pilotos, sendo o primeiro deles o do município de Brotas, que fica no interior do estado de São Paulo.
Fábio Pontes Ferreira, secretário de turismo do município, representou o destino solicitante, enquanto Solange Freitas foi a voluntária-especialista. A função de voluntários-monitores ficou sob a responsabilidade de Isabeli Pereira, aluna de graduação, e Matheus Almeida Sobrinho, recém-formado, ambos do curso de Turismo da ECA/USP.
Considerado um importante polo do ecoturismo nacional, Brotas é um município com características geográficas privilegiadas. Suas condições naturais, assim como a preservação da mata nativa e da biodiversidade animal e vegetal, favorecem a prática de esportes radicais como Rafting, Boia Cross, Canyoning e Arvorismo.
Além do ecoturismo, a Secretaria de Turismo de Brotas, por meio do planejamento e gestão integrada do território, também trabalha na criação e gestão de um calendário de eventos, fiscalização e orientação aos empreendimentos, além de participação em workshops, congressos e feiras promocionais.
A Associação das Empresas de Turismo de Brotas e Região (ABROTUR), fundada em 2004, é uma das instituições que busca fortalecer o destino e uma de suas iniciativas é o Selo ABROTUR, concedido a estabelecimentos turísticos que se preocupam com causas ambientais, econômicas e sociais no município.
Mesmo com um cenário cada vez mais promissor, em que o turismo ocupa um papel central no desenvolvimento local e traz benefícios para todas as partes envolvidas – população local, poder público, setor privado e terceiro setor -, a problemática a ser tratada em nossa mentoria foi o baixo nível de sensibilização e engajamento da comunidade, o que, na opinião da entidade municipal e comerciantes locais, se apresentava como obstáculo na promoção da atividade turística do município.
Sem um canal e/ou processo de diálogo estabelecido com a comunidade, a Secretaria de Turismo estava apenas tendo uma visão parcial da percepção da população, em parte não positiva, por meio de comentários pontuais em suas redes sociais, ou via boca a boca.
Durante o atendimento, as principais reflexões se relacionaram com o processo de escuta do setor público e de empresários locais junto à comunidade, e a importância de se trabalhar a comunicação, com a intenção de evidenciar o valor do turismo para Brotas.
Assim, durante os nossos encontros, foram pensadas estratégias para diagnosticar o sentimento da população em relação ao turismo e aos motivos do que foi entendido como “falta de engajamento”.
Uma vez apresentado o desafio, a voluntária-especialista e os voluntários-monitores, após alguns questionamentos e propósito de encontrar a raiz da situação apresentada, indicaram, como tarefa, a realização de uma pesquisa de opinião, simples e objetiva, com, pelo menos, 30 pessoas de diferentes segmentos do município, abrangendo a sociedade civil, empresários e o poder público, para se ter uma percepção sobre o impacto do turismo na cidade.
Na última mentoria, o município trouxe os resultados obtidos com a pesquisa, cuja conclusão acabou sendo diferente do que o imaginado pelo solicitante, já que nenhum dos entrevistados apontou que o turismo interfere negativamente no município. Pontuaram, aliás, que a atividade traz mais renda e emprego para Brotas.
Por fim, a equipe incentivou a reflexão sobre possíveis estratégias de comunicação a serem adotadas e aprimoradas para a sensibilização e educação da população para o turismo local, inclusive com a extensão deste tipo de pesquisa, com execução em formato online e presencial, principalmente em bairros e casas que não têm como hábito o uso da Internet.
A disponibilização e acesso a informações específicas acerca das atrações, equipamentos, experiências e atividades turísticas do município, bem como das iniciativas que são realizadas localmente, também foram pontos de atenção na comunicação com a comunidade. E, ainda, uma terceira proposta foi a de ampliar também a comunicação entre gestão pública e empresários locais, sempre provocando possíveis reflexões respondendo às seguintes perguntas: “o que será feito?”; “para quem?”; “com quem?”; e “qual a viabilidade de tempo e financeiro?”.
Dessa forma, foram elencadas as seguintes recomendações ao destino de Brotas:
1) maior atenção à produção de conteúdo informacional nas mídias sociais, com a ajuda de guias de turismo, atendentes e demais profissionais da atividade turística, para que sejam porta-vozes de comunicação e contato com a população;
2) ampliação de ações de sensibilização e valorização social da população local por parte da ABROTUR;
3) investimento na capacitação turística para coordenadores e professores municipais, além da oferta de cursos gratuitos ligados à educação para o turismo;
4) criação de mais eventos turísticos e recreativos na cidade que engajem e tenham os munícipes como público-alvo, para que sintam-se turistas em sua própria cidade, aproveitando o lazer existente nela.