Localizada no sertão nordestino do Rio Grande do Norte, a história do município de Florânia está diretamente relacionada à expansão do ciclo do gado, vivenciado por imigrantes portugueses a partir do século XVII, e também à construção de uma capela para São Sebastião, promessa feita por Atanásio Fernandes, caso o santo livrasse a cidade da epidemia de cólera ocorrida em 1856.
Segundo o portal Natal RN, o desenvolvimento do município centenário é marcado pela influência étnico-cultural de imigrantes italianos, judeus cristãos-novos, africanos e portugueses. Florânia apresenta rico patrimônio histórico-religioso, como a cruz do mártir José Leão, o Monte de Nossa Senhora das Graças, a Igreja Matriz de São Sebastião, o Mirante do Cajueiro (atrativo natural), Cachoeiras dos Tanques e a árvore Pau do Oco.
Também podem-se encontrar vestígios do homem da pré-história (pinturas rupestres do Capim Açu e da Chã Preta) e achados cerâmicos dos povos indígenas Tupis, que habitavam a região antes da colonização. É válido destacar que o município está localizado ao lado do Geoparque do Seridó (Geoparque aspirante pela UNESCO).
Josimar Tavares de Medeiros, coordenador de turismo do município, fez a solicitação do atendimento à Iniciativa Sábados Azuis. O vereador, turismólogo e membro do COMTUR, Rosivan de Medeiros, também participou do atendimento.
A equipe de voluntários da Iniciativa Sábados Azuis foi composta pela especialista Natália Cordeiro, consultora em turismo e gerente de hospitalidade, e pelos monitores João Pedro Aguila Capelo e Katia Rodrigues dos Anjos, ambos graduandos em Turismo pela Universidade de São Paulo, além de um representante do Núcleo Gestor da Iniciativa, João Mauro Carrillo, guia, consultor e facilitador de atividades em turismo e meio ambiente.
O principal desafio trazido por Josimar foi sobre engajamento, pois relatou a falta de envolvimento da comunidade para vislumbrar o turismo como agente transformador econômico, principalmente para investidores, empreendedores e setor terciário. Ademais, informou que os atrativos do município careciam de visibilidade por parte desses atores, o que evidenciava a necessidade de manutenção dos valores históricos, sociais e culturais da localidade.
A especialista Natália Cordeiro e o representante do Núcleo Gestor, João Carrillo, procuraram compreender as necessidades do município. Ao longo da primeira conversa, buscou-se entender quais polos/circuitos regionais existentes eram oportunidades para Florânia, pois a demanda turística poderia ser captada pelo município. Além deste mapeamento, a atividade da reunião focou em identificar os principais envolvidos com o turismo regional e interno, detalhando oportunidades e dificuldades de trabalho com esses grupos.
O segundo encontro contou com a apresentação da atividade solicitada e o relato marcante sobre a falta de adesão dos setores público e privado na tomada de decisões que estimulem o turismo. Contudo, uma sugestão feita durante o encontro foi sobre o método de trabalho. A proposta seria trabalhar em projetos menores, com os atores identificados na atividade anterior, o que poderia incentivar maior participação e manutenção das relações entre floranienses e seus vizinhos. Considerando o cenário de planejamento, se faz necessário aproximar, ouvir as necessidades e expectativas da comunidade e trade, além de envolvê-los ao longo de todo o processo, já que são os principais beneficiários do planejamento turístico.
Próximo ao término do atendimento, notou-se que o problema apresentado no início dos encontros não era o principal, nem o mais importante a ser trabalhado. A partir desse ponto, uma nova reflexão predominou: como estão sempre propondo e executando projetos para fomento do turismo, porque não registrar esses feitos para mostrar, aos grupos envolvidos, o motivo pelo qual o turismo possa ser uma opção viável para o desenvolvimento local?
Para isso, seria necessária a construção e compartilhamento de um material que recapitulasse todas as ações realizadas até o momento, como o “Flores para Florânia” – ação em que cada família cultiva flores nas portas de suas casas, como forma de embelezar a cidade; “corredor de Ipês” ou “Florânia no meu tempo” – roda de prosa com os idosos do município, em que contam histórias e memórias de vida na cidade, por exemplo. Por meio dessa reflexão, os munícipes reconheceram-se importantes e construtores da história do turismo floraniense.
Compreendendo o ponto de quem são e o que estavam desenvolvendo, os floranienses conseguiram apontar os potenciais segmentos de turismo para a localidade. Assim, com a finalidade de compreender melhor o cenário da oferta, a especialista Natália apresentou a metodologia de “Desenho holístico do Turismo”.
LEGENDA:
A aplicação da metodologia teve como objetivo subsidiar a discussão e trabalho dos atores locais a respeito do desenho de produtos e, especialmente, do produto principal de Florânia, relacionado ao Turismo Religioso. Apresentou ainda o “Quadro de desenho holístico” que teve o intuito de elencar prioridades para elaborar um plano de ação no curto e médio prazo. No longo prazo, deseja-se expandir a oferta do município. Vide instruções na imagem.
A especialista explicou os elementos que compõem cada parte da metodologia, e sugeriu que Josimar e Rosivan fizessem uma reunião com COMTUR (e interessados) para completar o desenho holístico e detalhar os pontos levantados anteriormente.
Além disso, a equipe voluntária incluiu uma série de dicas para os mentorados, quando fossem trabalhar em conjunto:
– Colocar-se na posição do turista, procurando entender suas necessidades, como irão acessar os atrativos etc.;
– Não é necessário esperar o produto ficar perfeito. Após lançado, podem acompanhá-lo, captar feedbacks e etc.;
– Compreender como territórios de turismo religioso promovem suas atividades e se inspirar nessas ideias e;
– Ter clara a diferença entre Turismo de Fé (ligado à religião) e Turismo Religioso Cultural (que pode ser mais ampliado e pode envolver até outras religiões).
Por fim, a equipe sugeriu novas recomendações que integrassem todo o conhecimento gerado até aquele momento, como a identificação dos atores, compreensão de suas “dores”; reconhecimento e registro de todo o trabalho/resultados já realizados e obtidos no município em prol do turismo; formas de registro e divulgação das ações; além de ideias para as próximas festividades – como a criação de um calendário de eventos para sintetizar tudo o que acontece no município.
Além disso, a partir da Festa de Nossa Senhora das Graças, foi sugerido que o município pudesse combinar comemorações menores com outras atrações, como feiras, por exemplo. Por fim, houve ênfase na realização de pesquisas de demanda, satisfação e motivação, pois são importantes para compreender as características dos turistas e, assim, fortalecer cada vez mais os conhecimentos e informações que possam subsidiar os processos de planejamento e gestão participativa, sustentável e integrada do turismo local.
A experiência em Florânia deixa como aprendizados:
Com isso, a demanda evoluiu de “o que posso fazer para acreditarem no turismo?”, para “reconhecimento da nossa história”, “apropriação de nossas ações” e “descoberta de potenciais”.
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COISAS DE FLORÂNIA. Categoria: FLORÂNIA – História, Geografia e Aspectos Políticos-Culturais. 27 de dezembro de 2018. Disponível em: <https://coisasdeflorania.wordpress.com/category/florania-historia-geografia-e-aspectos-politicos-culturais/>.
FELIPO. Portal Natal RN. Florânia RN. 23 de março de 2020. Disponível em: <https://natalrn.com.br/florania-rn/#:~:text=Conhecendo%20Flor%C3%A2nia%20RN&text=Tem%20um%20rico%20patrim%C3%B4nio%20hist%C3%B3rico,a%20%C3%A1rvore%20Pau%20do%20Oco>.
GEOPARQUE SERIDÓ: <http://geoparqueserido.com.br/>.
PREFEITURA DE FLORÂNIA: <https://www.florania.rn.gov.br/#/municipio>.